domingo, 17 de setembro de 2017

A psiquê e a alma, uma contradição divergente?








“A enfermidade é um conflito entre a personalidade e a alma”. Essa foi a frase, de um texto que circulou recentemente nas redes sociais, que me levou a uma profunda reflexão. Parei para analisar. Fazia sentido o que dizia, embora me deixasse um tanto confusa. Ambos, personalidade e alma, pareciam-me conceitos opostos e contraditórios. Além do que, abstratos demais (ou não, dependendo da perspectiva de quem vê).

Eu jamais poderia imaginar encontrá-los assim, lado a lado de algo cuja relação com o mundo é mais técnica e científica, ou pelo menos tenta ser, afinal, enfermidade está relacionada à doença, seja ela física ou psicológica. É bem verdade que as ciências atualmente têm se mesclado cada vez mais com outras áreas, em um mundo cada vez mais eclético e polivalente. Duas outras palavras que parecem ter se tornado moda.

Da mesma forma, personalidade e alma parecem coisas que não caberiam sintonizadas em uma mesma frase, complementando-se. Personalidade, individualidade, questões tão profundas que atingem o âmago do ser humano, relacionadas ao caráter, às qualidades. Alma, psiquê, parte imortal (?) do indivíduo, conceito intrínseco à religião, extremamente subjetivo.

Lembro-me de ter visto um filme em que um cientista tentava provar que a alma existe, capturando-a e armazenando-a em frascos. Talvez fosse pura ficção, não se pode saber ao certo até que ponto termina a realidade e tem início a fantasia, e prova disso são tantos inventos recentes que já haviam sido vistos em telas de cinema mundo afora, como o próprio celular, item indispensável a qualquer ser humano hoje em dia. Os mais experientes podem bem dizer o que lhes passou à mente quando viram, admirados, nos primeiros filmes de James Bond, ele se comunicando por meio de minúsculos aparelhos. O que diria Sean Connery, quando foi ao ar seu célebre 007 na década de 1960, se soubesse que hoje não sairia de casa sem um desses aparelhinhos? Imagina o que os telespectadores dessa época pensariam se soubessem que, hoje, falaríamos com as máquinas (como o personagem falava com seu relógio)... o que pensariam se soubessem que elas compreenderiam? O que pensaremos nós quando elas começarem a nos responder? Bem, Platão já previa que isso iria acontecer, quando dizia que nada existe no mundo real sem antes ter passado pelo mundo das ideias. Talvez ele estivesse certo.

Por isso, a máxima: “só sei que nada sei”. Assuntos que envolvem espiritualidade são complexos demais e causam muitas divergências. Quem sabe nunca chegaremos a saber a verdade sobre muito do que se imagina.

O fato é que a frase de impacto que abriu essa pequena reflexão pode trazer inúmeras interpretações, inclusive metafóricas. No entanto, o que se analisa é essa divergência convergente entre os termos à primeira vista contraditórios.

A alma, essência, abstração; personalidade, consciência, aspecto físico. Pode retratar o conflito entre o físico e o espiritual, o corpo e a mente. Um afeta o outro; um complementa o outro. O que se constata, no entanto, que é quase uma unanimidade, é que ambos andam lado a lado. Se o corpo está bem, a alma igualmente se encontra em paz; se a alma está tranquila, o corpo demonstra estar saudável.

No entanto, pode, ainda, referir-se ao lado psicológico do ser humano e seus conflitos espirituais. A psiquê e a alma, curando-se mutuamente, influenciando-se. Estejamos, então, em paz de corpo, alma e consciência, na busca de uma saúde perfeita, em todos os sentidos.

Acho que já filosofei demais por hoje, sempre é bom deixar um pouco de assunto para outro dia, senão, que graça teria os bate-papos se esgotássemos tudo o que queríamos dizer?



domingo, 3 de setembro de 2017

Crônica: Quando eu me for...





A vida é marcada por “coincidências” que, muitas vezes, nos surpreendem, a ponto de pensarmos se realmente são “coincidências”.
Na semana passada, publiquei uma crônica que falava sobre a efemeridade do amor (saliento que me referia ao amor passional – e ainda escreverei mais sobre o tema) e da própria vida. Justamente na madrugada de sexta-feira para sábado, uma escritora que eu conhecia, cujos círculos de amizade compartilhávamos, veio a falecer. Embora já com uma certa idade, estava para completar 86 primaveras, permanecia bastante lúcida e ainda escrevia.
Quero chegar a essa idade assim, com a capacidade de continuar rascunhando algumas linhas, mesmo que poucas.
No entanto, o ponto a que quero chegar é outro. Fui despedir-me da ilustre personagem, em sua última morada. Cemitério é um dos lugares mais tristes do mundo, e quando possui dimensões gigantescas, essa tristeza se multiplica. Assim que cheguei, deparei-me com muitos entes literalmente abandonados, túmulos malcuidados, quebrados, que não recebiam sequer uma “alma viva”, pelo visto, há muito tempo.
Realmente muito triste. Claro que devemos nos preocupar mais com os que ainda estão entre nós, e a vida está difícil. Porém, aqueles que outrora estiveram conosco mereciam coisa melhor. Muito embora cultuar os que já se foram não seja o forte de nossa sociedade e da nossa cultura, definitivamente, não quero esse destino para mim.
Quando eu me for – sei que muitos não gostam de falar sobre isso, no entanto, muito narraram e entoaram esse tema em belíssimas obras, transformado em versos por inúmeros poetas, como Mario Quintana, Mário de Andrade e Vinícius de Moraes; o assunto foi, inclusive, eternizado em músicas de Noel Rosa e Nelson Cavaquinho – mas, voltando ao assunto... quando eu me for, quero ser cremada e minhas cinzas devem ser enterradas em um lugar magnífico, repleto de natureza para me fazer companhia. Sobre meus “restos mortais”, plantem uma árvore, para crescer e florescer, deixando meu legado aos que virão. E quando a saudade bater naqueles a quem deixei, poderão me visitar quando o desejarem... e poderão me abraçar, pois a energia fluirá até chegar a mim.
Se mais pessoas fizessem o mesmo, em vez de cemitérios abandonados, teríamos inúmeros parques lindamente arborizados, que perpetuariam a vida, em todos os sentidos, e a memória dos que se foram.